Filme: Cinquenta tons de cinza (por Salemme)


Filmes adaptados de livros: minha eterna frustração cinematográfica. Sofro claro, do mal que atinge a maioria dos leitores que corre pra telona e quer ver transformado em imagens tudo que criou em sua própria mente ao ler, mesmo sabendo que pra isso seria necessária uma sessão 4 horas (ou mais). Partindo dessa perspectiva devo dizer que 50 tons de cinza está muito abaixo do que eu imaginava, mas muito além do que eu esperava.



O romance que vendeu mais de 100 milhões de cópias no mundo todo relata o encontro da inocente estudante Anastácia Steel (Dakota Johnson) com o misterioso, bem sucedido e bilionário Christian Grey (Jamie Dorman) que chacoalhou radicalmente a vida de ambos e também a imaginação de quem acompanhou as aventuras –sexuais- vividas por eles.

Não posso dizer que o filme não está fiel o livro, está sim. A história é aquela. Os vinte minutos iniciais e os 15 finais estão, inclusive, exatamente iguais ao original. A adaptação poderia ter ficado melhor se, como no livro, fosse narrado em primeira pessoa, com a Anastácia contando a história. Em terceira pessoa perde-se muito das impressões e sentimentos dela enquanto conhece os “gostos peculiares” do Sr. Grey e assim, um pouco do sentido da história.

O problema central são as cenas de sexo, que ocupam grande parte das páginas do primeiro volume da trilogia, já que são descritas em detalhes, e no longa são poucas, rápidas, bem suaves e sem a “agressividade” do apetite sexual do Sr. Grey. Em apenas em uma tive a impressão de que era “O” Christian Grey que estava ali. Esse corte das partes “picantes” acabou por prejudicar um pouco o sentido geral do filme, por exemplo, quando transformou uma cena crucial em que Anastácia percebe que o masoquismo pode dar prazer a ela também em uma cena boba digna de novela das seis... Foi a cena mais decepcionante.

A interpretação de Dakota Johnson beira o irritante. A tentativa de mostrar uma garota inocente virou uma personagem “boba”, sem personalidade, que ri de tudo... Seria melhor ter colocado Kristen Stwart fazendo a velha e boa Bela Swan, teria ficado mais próximo da Srta. Steel descrita no livro. Jamie Dorman não convence, mas tem uma estrelinha a mais que ela. Me pergunto se ele leu o livro antes de “vestir” o papel de Sr. Grey que é intimidador, exigente, focado e intenso, bem diferente da atuação de Dorman que mostrou um homem comum com preferências sexuais diferenciadas, nas poucas cenas de sexo ele me pareceu estar numa apresentação de balé.

A adaptação (dirigida por Sam Taylor-Johnson) tentou pegar um livro pornográfico e transformar num romance erótico e daí certamente virá a maior frustração dos fãs. Acredito que o ideal seria fazer um filme mais próximo da obra original e passar em cinemas “cults” (como foi com Azul é aCor Mais Quente e Ninfomaníaca, por exemplo) ou, filmar essa versão mais água com açúcar e fazer baseado no livro de E.L. James: As Aventuras do Sr. Grey”, ou algo parecido.


Aproveito para corrigir um pequeno erro, quando postei sobre o trailer disse que o filme seria adaptação dos três livros em um e não é. Foi apenas o primeiro. Será que a continuação vem pra telona também?

(Salemme)

Dani Salemme

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