Mank

"A Metalinguagem é a linguagem que descreve sobre ela mesma. Ou seja, ela utiliza o próprio código para explicá-lo."

E se tem uma coisa que o mundo Hollywoodiano cheio de egos adora, é falar sobre si mesmo. Volta e meia desponta nas telonas um filme cuja história retrata o mundo encantado do cinema. 

No caso, o filme da vez é Mank. Lançando diretamente na Netflix no streaming vermelhinho, o filme usa e abusa de metalinguagem pra contar parte da biografia do roteirista Herman J. Mankiewicz, fácil entender porque o apelido pegou, enquanto este escrevia o roteiro de Cidadão Kane, que se tornaria um clássico do cinema.

"Você não pode capturar a vida inteira de um homem em duas horas" .Fonte: IMDb

O filme mostra um Mank (Gary Oldman, de Gordon a Churchill) bastante fanfarrão e um Orson Welles (Tom Burke) cheio de vontades e influências o suficiente pra conseguir que se isolasse o acidentado Mank do mundo (e do álcool) pra que ele terminasse o seu roteiro de uma vez e em tempo recorde. Em seu isolamento particular o homem tem a companhia da enfermeira Fraulein Freda (Monika Gossmann) e da datilógrafa Rita Alexander (Lily Collins, a Branca de Neve)  que é quem faz as perguntas que levam Mank a contar as histórias dos feedbacks que nos guiam pelo filme.

Pausa para curiosidade: Um dos personagens que aparece algumas vezes nos feedbacks de Mank é o produtor de cinema Irving Thalberg (Ferdinand Kingsley). Esse cara ficou conhecido pelos métodos inovadores de fazer cinema. E conhecido de tal forma que hoje existe um prêmio especial no Oscar chamado Irving G. Thalberg Memorial Award, dado a "produtores criativos, cujo trabalho reflita alta qualidade na produção cinematográfica, comparável ao daquele que lhe dá nome".

E não é só na contação da história que está a metalinguagem. Além disso o filme foi todo produzido para parecer um filme de época. Com câmeras que simulam os rolos 35mm da época, os mesmos usos de posição de câmera e cortes, até a (corajosa) fotografia em preto e branco. O nerd de cinema ainda pode notar, por exemplo, que o filme simula também a "marcação de fim de rolo" (uma bolinha preta pisca no canto superior da tela, à direita de quem assiste) exatamente a cada 22 minutos de película (que era o tamanho de cada rolo de filme, quando os filmes eram gravados em rolos). Esse sinal servia pra indicar para o projecionista que o rolo estava acabando e era hora de colocar o próximo. 


"Essa, meu amigo, é a magia do cinema." Fonte: IMDb

Todos esse capricho técnico rende reconhecimentos. Os amantes da sétima arte talvez vão curtir saber que Mank foi o queridinho das indicações no Oscar 2021, concorrendo em 10 categorias (de longe, o mais indicado do ano). São elas: Figurino, Maquiagem, Trilha sonora, Som, Atriz coadjuvante (com a Marion Davies de Amanda Seyfried), Ator (o próprio Mank de Gary Oldman), Direção (David Fincher), Melhor Filme e também em Fotografia e Design de produção, vencendo nestas duas. 

A verdade é que Mank é quase uma piada interna hollywoodiana e é preciso ter pelo menos algum conhecimento sobre os contextos políticos e cinemáticos americanos da época (e/ou alguma paciência) pra entender todos os diálogos e conflitos que se passam. Mas ainda assim, dá pra conhecer um pouco mais da história de egos do cinema (e das pessoas que muito provavelmente inspiraram os personagens de Cidadão Kane) assistindo. 

Cris F Santana
@CrisFSantana

cris f santana

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