"A one. A two. A you-know-what-to-do."
Fonte: IMDb |
Lançado no final de 2020 direto em streaming (opção escolhida e acertada pela maioria dos filmes lançados no período de pandemia), A voz suprema do blues retrata um dia na história de Ma Rainey e sua banda de blues.
O filme se data ao final dos anos 1920's, contextualizando historicamente, pouco mais de 40 anos depois da 13ª Emenda (que libertou os escravos lá nos EUA). Os pretos estavam ávidos por ocupar espaços e os brancos, na maioria das vezes, ávidos pra não deixar (vale lembrar que pra um americano "kkk" não é risada). E rolava um movimento massivo de migração de pretos do Sul para o Norte dos EUA.
Pausa pra revisão da aula de história: Quando os EUA proibiram que se trouxessem mais pretos escravos pro país rolou um conflito social-econômico bem tenso entre o Norte e o Sul do país. No Norte a indústria era a bola da vez, pra eles a ideia da abolição era boa porque era mais gente livre pra comprar os produtos fabricados e mais mão de obra pra trabalhar nas fábricas. Já pra galera do Sul, marjoritariamente agrícola, bacana mesmo era manter os pretos cativos trabalhando sem custos nas plantações. Essa treta culminou na Guerra Civil (a da Secessão, não a da Marvel), mais de 30 anos de peleja, o Norte venceu e o Sul teve que "engolir" a seco a liberdade dos pretos (oficialmente, pelo menos).
Dentro desse contexto, o Norte do país virou um mercado crescente de pretos consumidores. E os brancos donos de gravadoras também perceberam isso com o sucesso de vendas dos discos de blues. E aí que entram Ma Rainey e sua banda.
"They don't care nothin' about me. All they want is my voice." Fonte: IMDb |
Ma Rainey (Viola diva Daves) é uma cantora de blues consagrada entre os pretos, historicamente conhecida como a mãe do blues (sim, a personagem é baseada em alguém real). Suas músicas e seus discos são um verdadeiro sucesso de vendas. Vindos da Georgia (que fica Sul), são convidados a gravar um disco em Chicago (isso mesmo, no Norte). Toda a história principal do filme se passa neste um dia de gravação. O jovem Levee (Chadwick Boseman, R.I.P.) é o trompetista da banda da Ma Rainey. Instrumentista e compositor talentosíssimo e que também desperta alguma atenção da gravadora.
Se passando quase que completamente dentro do estúdio de gravação, A voz suprema do Blues é um filme de muitos diálogos. Diálogos rápidos e intensos. Diálogos muito importantes sobre como os pretos, especificamente os pretos talentosos, eram tratados como um produto pelos brancos. Interessante enquanto houvesse lucro.
E a intensidade destes diálogos é usada de forma precisa para criar a dicotomia perfeita entre as personagens de Ma Rainey e Levee. Obviamente, enfatizada pelo talento de seus interpretes (não a toa, indicados à Oscars por suas respectivas atuações).
A Ma Rainey de Viola (diva) Daves é enfática, objetiva, sabe de seu talento e seu dom e se apropria desse saber. Tem a maturidade e a astúcia para usar o seu poder (o seu dom) em seu benefício e também dos pretos que a rodeiam, até o limite do possível.
O Levee de Chadwick Boseman é imediatista, é apressado, é vívido. Também sabe de seu talento e seu dom e exige ser reconhecido e recompensado por isso. É dominado pela intensidade de seus traumas e ferocidade de seus desejos.
Vale citar que no filme também estão Glynn Turman, o pianista Toledo, Taylour Paige e vistosa acompanhante de Ma Rainey, Dussie Mae e Colman Domingo o trombonista Cutler, o ator que, assim como os demais da banda, aprendeu a tocar trombone pra parecer mais realista na personagem.
Para os apreciadores técnicos da sétima arte, dá pra dizer que é fácil notar porque figurino, design de produção e principalmente porque maquiagem foram premiados no Oscar 2021.
E se quem assistir ao filme notar uma certa semelhança de formato com o filme Fences (Um limite entre nós, em pt-br), não é mera coincidência. Além da presença da diva Viola em ambos e do co-protagonista daquele ser produtor deste (Denzel Washington). Os dois filmes são baseados em peças do mesmo autor, August Wilson.
Ou seja, pode ir lá na sua conta da Netflix (ou na do primo que te empresta a senha) que vale a pena a assistida!
Cris F Santana
@crisfsantana
Resumo de Prêmios:
° Chadwick Boseman (melhor Ator)
Indicações: Oscar, BAFTA, SAGA
Vitórias: Globo de Ouro
° Viola Davis (Melhor Atriz)
Indicações: Oscar, Globo de Ouro, SAGA
° Design de Produção: Mark Ricker (produção), Karen O'Hara e Diana Stoughton (decoração de set)
Indicação: Oscar
° Maquiagem e Cabelo: Sergio Lopez-Rivera, Mia Neal e Jamika Wilson
Indicações: Oscar, BAFTA
° Figurino: Ann Roth
Indicações: Oscar, BAFTA
° Cast: Chadwick Boseman, Jonny Coyne, Viola Davis, Colman Domingo, Michael Potts e Glynn Turman
Indicação: SAGA
Obs. Premição do Oscar será em 25 de Abril, do SAGA em 4 de Abril e do BAFTA em 11 de Abril.
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