De Volta ao Jogo (Por Julio Chuman)

(John Wick - 2014)

Um homem em busca de vingança
Apesar de essa ser uma temática requentada no gênero policial, De Volta ao Jogo, dirigido pelos estreantes Chad Stahelski e David Leitch mostra-se um longa interessante e bem construído em um tipo de filme que é constantemente abordado de maneira simplória. 
Keanu Reeves é John Wick, protagonista e personagem-título, que nos é apresentado como um homem tentando recuperar-se do luto pela morte da esposa por uma doença. Um dia, ao parar com seu Mustang 69 para abastecer em um posto de gasolina, é abordado por um jovem russo (Alfie Allen, o Theon Greyjoy de Game of Thrones) querendo comprar seu carro. Recusa-se e é surpreendido durante a noite em sua casa pelo jovem e seus companheiros, que o espancam e roubam seu carro. Wick decide então ir atrás dos ladrões para se vingar.


Mas a questão é que Wick não é um homem qualquer. Na verdade, ele é um aposentado matador da máfia, uma verdadeira lenda, além de ex-funcionário de Viggo Tarasov (Michael Nyqvist, protagonista da trilogia sueca Millenium, baseados nos best-sellers de Stieg Larsson), um chefão do crime local que é, coincidentemente, o pai do jovem russo. Quando esse descobre a burrada do filho, percebe o grande problema na qual este se envolveu.
A criação do personagem de Wick é o ponto alto no roteiro do desconhecido Derek Kolstad. Realizada a partir da reação que as pessoas têm ao ouvirem seu nome, mostra-se inteligente, pois consegue criar na cabeça do espectador uma expectativa imensa por ver aquele homem em ação. Apelidado pelos conhecidos como Baba Yaga, uma lenda russa semelhante a do bicho-papão, ele é conhecido por sua frieza, instinto assassino e foco, algo que a escolha por Keanu Reeves para o papel acaba por potencializar.
Afinal, apesar de Reeves estar na história do cinema pela interpretação de Neo, protagonista da saga Matrix, o ator não é conhecido particularmente pelos seus dotes interpretativos. Mas o que em geral serviria como desqualificativo para o ator, aqui se torna um benefício, pois cai como uma luva em um personagem que, claramente unidimensional, é mais um uma ideia que um ser humano “real”.
Mas essa construção teria se tornado trivial, caso quando realmente víssemos Wick em ação, esse não correspondesse à expectativa criada. Felizmente, isso não ocorre. As cenas de ação, evitando a todo custo serem espalhafatosas, o que poderia facilmente cair na galhofa, mostram-se bem dirigidas e filmadas, exceção feita a alguns poucos momentos onde percebemos alguns socos tortos sendo desferidos. Além disso, o fato de Wick também se mostrar vulnerável a ferimentos, algo que não ocorre aos protagonistas em muitos filmes do gênero, ajuda a aumentar a tensão em alguns momentos chaves.
O filme ainda traz algumas sacadas bem interessantes, como o hotel Continental, uma espécie de QG para matadores de aluguel, com direito a médico 24 horas e bar subterrâneo, o tiroteio em uma danceteria, além de um bom trabalho de fotografia de Jonathan Sela, que aprofunda a personalidade do personagem através de uma paleta de tom cinza constante.
Infelizmente, na ambição de se criar o clímax final, o filme acaba por recorrer a alguns artifícios que, além de clichês, são mais dignos de filmes picaretas. Mas isso não estraga a boa experiência de ver o filme, um inesperado ponto alto na carreira claudicante carreira de Reeves.

Canequeiro convidado)

cris f santana

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