(See you yesterday — 2019)
Este texto tem o objetivo dar bons motivos para assistir o filme “A gente se vê ontem”. E eles começam nos primeiros 10 minutos do filme..
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Isso mesmo, o cartaz do filme (fonte: IMDB) |
A primeira cena do filme se passa em uma sala de ensino médio de uma escola de ciências, alunos e professor lendo livros enquanto esperam o sinal tocar indicando o inicio das férias de verão. O easter-egg que vai guiar o filme a partir dali são justamente os livros (que são mostrados em plano detalhe) sendo lidos: A Brief History of Time (Stephen Hawking), Kindred (Octavia E. Butler) e Black (Kwanza Osajyefo)
Uma ficção científica com pontinha de nostalgia
Em A Brief History of Time (Uma Breve História do Tempo, em pt-br), Stephen Hawking usa a física quântica pra explicar e divagar entre perguntas como “O tempo sempre existiu, ou houve um começo e haverá um fim?”. E em tempos de superproduções interestelares Hollywoodianas, o filme aqui desce da nave no melhor estilo “sessão da tarde nos anos 90”. São dois estudantes com um projeto de ciências conjunto: uma mochila que viaja no tempo (particularmente pro passado). Mas não se engane pensando que eles botaram lá um monte de válvulas e relógios e esperaram que a gente acreditasse que aquilo funciona (botaram também, mas não só isso). Rola toda uma explicação científica real sobre como a fusão de prótons cria energia o suficiente pra gerar uma espuma quântica que pode originar um buraco de minhoca que permitiria que eles fossem ao passado por alguns minutos — ou algo assim.
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CJ ajustando a DeLorian Backpack (fonte: IMDB) |
Uma mulher negra protagonista
Em Kindred (Kindred, laços de sangue, em pt-br), Otávia Butler narra a história de Dana, uma escritora dos tempos contemporâneos de não muito sucesso que de repente passa a ser levada para o passado, precisamente para o período da escravidão americana, onde precisa ajudar a salvar a vida de seus antepassados (o que não é lá muito fácil, naqueles tempos, considerando sua cor de pele). E no filme temos Claudette ‘CJ’ Walker (muito bem interpretada por Eden Duncan-Smith), a adolescente negra que idealiza e constrói a mochila máquina do tempo, com a ajuda do seu amigo, também negro, Sebastian (Dante Crichlow).
E quantos por mulheres negras? ..
Pois é!
Aliás, quase todo o elenco do filme é fantasticamente formado por atores negros. Só não dá pra dizer que todos os personagens importantes são negros, porque temos o amigo latino, Eduardo (Johnathan Nieves), que dá uma bela mãozinha pra CJ, quando ela precisa (atores brancos são só 3, de um total de 25 no filme, e só um deles tem nome*). A princípio o único motivo da dupla pra construir a máquina é provar que podem fazer (e ganhar bolsas pra universidade). Porém no decorrer da trama CJ encontra um motivo a mais pra usar a máquina (não é spoiler, isso tá no trailer).
Uma abordagem tocante do racismo de cada dia
Na série de quadrinhos Black, Osajyefo narra a história de um jovem negro que é “morto” a tiros pela polícia mas sobrevive milagrosamente com superpodres e precisa decidir o que fazer com a verdade sobre sua morte. E no filme, Calvin, o irmão mais velho da CJ é mais um cara negro vítima dos “enganos” da polícia americana. É assassinado a tiros quando a polícia o “confunde” com bandidos em fuga. Se constrói aqui uma abordagem dramática e tocante do racismo estruturado americano — quase nada diferente do brasileiro. Prevenir o irmão de uma morte injusta se torna o motivo principal de CJ pra voltar no tempo. Mas é claro que, como todo sci-fy sobre o tema já mostrou, mudar fatos na linha do tempo pode trazer consequências. Black ainda tem mais uma relação com a história do filme, mas esta sim seria spoiler dizer.
Como não poderia deixar de ser em um filme de protagonista mulher, o machismo também é sensivelmente apresentado na história como mais um obstáculo (muitas vezes, literalmente um obstáculo) na vida da CJ, na figura de um ex-namorado que a tenta difamar abusivamente.
Mais bons motivos pra ver o filme são as atuações de Astro, Marsha Stephanie Blake e Myra Lucretia Taylor, irmão e mãe da CJ e a vó do Sebastian, respectivamente.
E como se isso tudo aí já dito não bastasse, o filme é dirigido por Stefon Bristol e co-roteirizado por ele e Fredrica Bailey, pupilos queridos de Spike Lee (Malcon X, Infiltrado na Klan, Ela quer tudo) o homem da representatividade negra do momento, que por acaso, também é produtor deste filme.
Nem só de referência literária se faz um filme
Tentando usar o melhor modo sem spoiler possível, vale contar que o filme também entrega uma baita mensagem para reflexão em seu final. Daquelas que precisam de 10 segundos de silêncio pra enxergar o tom. Tocante.
*Quer mais um ovo de Páscoa? Será que você já viu o profesor Lockart em algum lugar?
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De volta pro futuro de ontem! (fonte: Entertaiment) |
Opa! Ainda não acabou não! Motivo bônus: Não precisa gastar o din do cinema
Aliás, não precisa nem sair de casa! Se você é assinante Netflix (ou tem aquela senha do primo a mão), é só logar que o filme tá lá.
E bom (muito bom!) filme! =)
PS. Pra quem já assistiu o filme, queria deixar esse tweet com essa mensagem sobre maravilhosa sobre o final: Esse Tweet.
A luta contra o sistema nunca termina! E é preciso continuar lutando..
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